quarta-feira, 13 de julho de 2011

Indústria química promete investir em
inovação e aderir à onda verde
Por Carolina Ramos
10/07/2011
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A indústria química quer se reinventar e reverter uma imagem
mais associada aos riscos de seus produtos do que aos benefícios
 que eles representam para a sociedade. No imaginário social,
poucos se lembram que as tintas que colorem as casas, os tubos
 de PVC usado nas construções ou as inúmeras aplicações do
 plástico em brinquedos, automóveis e eletroeletrônicos são
resultantes de um processo que começa na indústria química
 de base. Suspeitas – e até mesmo comprovações – dos perigos
 da indústria química à saúde humana e ao meio ambiente já não
 são mais novidade há muito tempo. Pelo menos desde a década
 de 1960, com o início da preocupação relacionada à poluição
 industrial e aos acidentes nas fábricas, o sinal vermelho é aceso
 frequentemente para esse setor industrial. Um dos avisos mais
 recentes parte do relatório divulgado em junho deste ano pelo
 Departamento de Saúde dos Estados Unidos, listando a substância
formaldeído, entre pelo menos outras oito, como causadora de
 câncer. O formaldeído, base do formol, é usado em produtos para
alisamento de cabelos, esmaltes para unhas e perfumes,
entre outros.
No Brasil, os cosméticos, assim como outros produtos – a
exemplo dos defensivos agrícolas, químicos de uso industrial,
petroquímicos e farmacêuticos –, formam o corpo dessa indústria
gigante que, apesar de atualmente deficitária, é a quarta
em importância na formação do PIB industrial brasileiro,
segundo dados de 2008 da Pesquisa Anual Industrial do IBGE.
Estima-se que, em 2010, esse setor industrial brasileiro
tenha faturado US$ 130,2 bilhões, de acordo com a Associação
Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o que lhe garante
a oitava posição no ranking das dez maiores do mundo, em
termos de faturamento.
Um estudo encomendado pela Abiquim, o Pacto Nacional
da Indústria Química, quer elevar ainda mais a posição do
 setor industrial brasileiro nesse ranking, colocando-o entre
 os cindo maiores do mundo. Esse objetivo seria alcançado
 como resultado do intento estratégico de tornar o Brasil
superavitário em produtos químicos e líder em química verde.
 Para tanto, esse estudo prevê um conjunto de compromissos
 da indústria química com inovação, desenvolvimento econômico
 e social do país e com o estabelecimento de condições
favoráveis para o potencial investimento de US$ 167 bilhões
 até 2020. “Para se ter uma ideia da magnitude desse desafio,
números da Abiquim e do BNDES indicam investimentos
confirmados em valor médio anual de US$ 4,1 bilhão no
período 2010-2013, soma que dobra a média histórica
da indústria”, diz o estudo “Desempenho recente da
balança comercial e os limites ao crescimento da indústria
química”, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES), disponível no site da organização.
São somas altas, justificadas pelo alto desempenho dessa
indústria, responsável por prover vários dos produtos
utilizados não apenas em setores produtivos, mas também
na vida cotidiana. É impossível desassociar o uso de
seus produtos à funcionalidade do dia a dia, principalmente
em centros urbanos, onde, aliás, está concentrada a maior
parte da população brasileira. Desde a sala ao banheiro de
uma casa, passando pela área de serviço, em cima de
móveis ou dentro de armários, estão os produtos químicos
ou aqueles que derivam dessa indústria e que facilitam
o modo de vida da sociedade contemporânea. Embalagens
alimentícias, produtos de limpeza e shampoos são alguns
dos que fazem parte de uma lista quase infindável.
“A química está presente no nosso dia a dia em
praticamente tudo o que fazemos e participa dos
 avanços realizados nos mais diferentes campos
científicos, tecnológicos e industriais. Ela contribui
 para a busca de novas soluções para o cotidiano
e para inovações sustentáveis”, opina Fátima Giovanna
 Coviello Ferreira, diretora de economia e estatística
da Abiquim.
Embora a indústria química tenha trazido avanços
 inegáveis, sem os quais a sociedade atual não seria
 a mesma, esse mesmo progresso implica em riscos
 à saúde e ao meio ambiente. “Infelizmente, ainda
grande parte das pessoas associa a indústria química
 aos riscos, já que muitos processos envolvem produtos
 inflamáveis e/ou explosivos”, diz Wagner Aparecido
Contrera Lopes, gerente de fiscalização do Conselho
 Regional de Química – 4ª Região, cuja jurisdição
 abrange o estado de São Paulo, onde está a maior
parte das empresas e dos profissionais da indústria
química brasileira.
Tem fundamento a preocupação sobre os danos
 causados pelos produtos químicos por parte de
diferentes representantes da sociedade, desde
consumidores a ativistas ambientais e, inclusive,
 representantes de governos e de alguns empresários
 do setor industrial químico. Um exemplo é o desconhecimento
sobre as substâncias químicas. De acordo com informações
disponíveis no site da Organização Pan-Americana de Saúde,
 que atua como escritório regional da Organização Mundial da
Saúde para as Américas e integra os sistemas da Organização
 dos Estados Americanos (OEA) e da Organização das Nações
 Unidas (ONU), existem atualmente cerca de dez milhões de
 substâncias químicas, das quais cerca de 100 mil são de uso
 difundido. Dessas últimas, apenas algumas centenas foram
avaliadas plenamente quanto aos seus riscos para a saúde e ao
meio ambiente.
Nesse cenário, a busca por uma atuação mais responsável
por parte da indústria química, em termos de saúde, segurança,
 meio ambiente, qualidade e responsabilidade social, é objeto
de um programa da Abiquim, como explica Fátima Ferreira, diretora
 da entidade. Adotado pela Abiquim em 1992, o programa Atuação
Responsável foi inspirado no programa internacional Responsible
 Care, criado no Canadá pela Canadian Chemical Producers
Association. De acordo com informações disponíveis no
site da Abiquim, o Responsible Care fornece mecanismos que
 permitem o desenvolvimento de sistemas e metodologias para
 cada etapa da gestão da saúde, da segurança e do meio ambiente
 das empresas químicas e das cadeias produtivas ligadas a ela.
Até 1998, as empresas associadas à Abiquim participavam
 voluntariamente do programa Atuação Responsável. A partir
 daquele ano, a adesão passou a ser condição de filiação à
entidade, que atualmente tem 133 indústrias associadas. Entre
 os 12 princípios diretivos mencionados pela diretora da Abiquim
 e que estabelecem a base ética do programa está o
gerenciamento dos riscos inerentes às atividades e produtos
 da empresa, a partir da adoção das melhores práticas disponíveis
 a fim de eliminar acidentes e controlar os aspectos que possam
impactar negativamente a sociedade e o meio ambiente.
As empresas filiadas à Abiquim devem enviar anualmente os
 resultados dos seus indicadores de desempenho, medidos por
 uma avaliação realizada pela própria organização. Para auxiliar
 as empresas químicas associadas na auditoria de seus sistemas
 de gestão, a Abiquim faz uma verificação que é aplicada por
15 organismos de avaliação de conformidade – ou certificadores
 –, através de profissionais de empresas associadas e
 representantes de comunidades vizinhas às empresas químicas
verificadas, todos treinados nos procedimentos do sistema.
Em 2010, foram feitas 25 verificações em 18 empresas.
Pesquisa e inovação
Entre os compromissos estabelecidos pelo Pacto Nacional
das Indústrias Químicas está o desenvolvimento de tecnologias,
inovação de produtos e soluções avançadas. Como diz o estudo,
 a recuperação do déficit comercial do setor – de US$ 9,3 bilhões
 entre janeiro e maio deste ano, valor 28,4% superior ao do mesmo
 período de 2010 – requer uma estratégia agressiva de solução de
 debilidades aliada ao desenvolvimento de mercados hoje pouco
 familiares à indústria brasileira. “Não é por acaso que, em muitos
países, as políticas de desenvolvimento e de apoio à exportação se
tornem redutos para a promoção da inovação”, aponta o estudo.
Um dos benefícios do alcance desse objetivo seria, ainda de
 acordo com o estudo, a criação e desenvolvimento de tecnologia,
com cultura de inovação e pesquisa. Para concretizá-lo, está previsto
o investimento de US$ 32 bilhões em pesquisa, desenvolvimento
e inovação, o equivalente a cerca de 1,5% do faturamento líquido
previsto para 2020. Parte desse investimento será executado em
 cooperação com instituições educacionais e de ciência e tecnologia.
Para Fátima Ferreira, diretora da Abiquim, a indústria química está
colocada hoje frente aos grandes desafios da sustentabilidade, das
 matérias-primas renováveis e dos produtos e processos inovadores.
 “As empresas químicas são fortemente baseadas em conhecimento
 e tecnologia, mas as oportunidades e desafios são muitos mais
amplos do que qualquer empresa pode enfrentar de modo isolado”,
 comenta. É por essa razão, de acordo com ela, que as empresas
estão buscando cada vez mais colaborações, seja com outras
empresas ou com instituições de ensino e pesquisa. “Os investimentos
dependem de cada empresa, das suas áreas de negócios e das
suas trajetórias, mas é possível dizer que todas estão cada vez
mais conscientes do tema inovação e possuem algumas preocupações
comuns, a exemplo da busca por sustentabilidade e fontes renováveis”.
Brasil discute segurança química
Nosso país ainda não possui uma política nacional com metas
destinadas ao aperfeiçoamento da gestão de substâncias químicas.
 Mas aspectos da formulação dessa política já são discutidos
no âmbito da Comissão Nacional de Segurança Química (Conasq),
coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e integrada
 por instituições públicas, privadas, representantes da sociedade
civil – entre elas, a própria Abiquim – e de universidades.
Uma das finalidades dessa comissão é discutir e debater temas
 relacionados à segurança química com vistas à formulação de
programa nacional para essa área. Nesse campo, as pesquisas
 realizadas pelo setor acadêmico têm papel crucial nessa discussão.
A Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade de Brasília (UnB)
 participam da Conasq levando informações sobre as pesquisas
 relacionadas ao assunto, contribuição que é qualificada por
 Sérgia Oliveira, diretora do Departamento de Qualidade Ambiental
 na Indústria do MMA, como fundamental para alimentar políticas
 futuras e envolver a área acadêmica na sua articulação.
O Programa Nacional de Segurança Química tem dez linhas
prioritárias de ação, entre as quais estão mecanismos de controle
 e fiscalização na gestão de substâncias químicas e a implementação
 de pelo menos duas convenções internacionais: a de Roterdã, que
 regula o comércio internacional de produtos químicos perigosos;
e a de Estocolmo, sobre poluentes orgânicos persistentes. Esta última
 tem o objetivo de eliminar globalmente a produção e o uso de
algumas substâncias tóxicas produzidas pelo homem.
Ainda na busca pela minimização dos riscos das substâncias químicas,
 o Brasil aderiu à política internacional para a promoção da boa gestão
 dos produtos químicos. É o Strategic Approach to International
Chemicals Management (em português, Abordagem Estratégia
 para a Gestão Internacional de Produtos Químicos), cuja meta é,
 até 2020, assegurar que os produtos químicos sejam produzidos
e utilizados de forma que diminuam significativamente impactos
 adversos sobre o meio ambiente e a saúde humana.
Política internacional
Se o Brasil ainda busca traçar sua política relacionada às
substâncias químicas, iniciativas de outros países nesse campo já
 existem há algum tempo, como é o caso do Reach, a legislação
 sobre substâncias químicas da União Europeia aprovada em 2006.
 A sigla significa Register (registro), Evaluation (avaliação),
Authorization (autorização) eChemicals (substâncias químicas).
Trata-se de um regulamento aprovado pelo Parlamento Europeu
e pelo Conselho da Comunidade Europeia para o controle de
 produtos químicos. Essa política foi elaborada a partir de princípios
 que consideram, por exemplo, a responsabilidade da indústria
 na geração e na disseminação da informação. Ela deve demonstrar
 que seus produtos e sua utilização são seguros antes de colocá-los
 no mercado e também assegurar que o consumidor tem o direito
de conhecer as características e os efeitos dos produtos que adquire.
O Reach entrou em vigor em junho de 2007 e as substâncias químicas
 exportadas para a União Europeia ficaram, desde então, sujeitas a
essa legislação. Em princípio, todas as substâncias químicas fabricadas
 nos países europeus ou importadas por eles em quantidades acima
 de uma tonelada estão sujeitas ao registro, devendo a indústria
 responsável pela fabricação ou importação fornecer dados sobre
 seus produtos aos clientes. Assim, substâncias consideradas de
grande preocupação em relação aos seus efeitos para a saúde
 humana e o meio ambiente deverão ter seus usos autorizados
para continuarem a serem comercializadas. Entre elas, estão as
 substâncias carcinogênicas (que provocam câncer), mutagênicas
 (que podem causar mutação nas células do organismo) ou que
 causem danos ao aparelho reprodutor.
Esse tema dos impactos à saúde humana e ao meio ambiente é
 tratado no capítulo 19 da Agenda 21, um programa de ações para
 o desenvolvimento sustentável neste século, adotado durante
a Conferência Mundial das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
 o Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992, a Eco-92. O texto
 incorpora propostas de ações que promovam a segurança química,
 conceituada no site da Organização Pan-Americana de Saúde como
 “a prevenção dos efeitos adversos, para o ser humano e o meio
 ambiente, decorrentes da produção, armazenagem, transporte,
 manuseio, uso e descarte de produtos químicos”. Quase duas décadas
 depois, o Brasil, que postula a liderança mundial no uso de energia
 renovável, não pode perder a oportunidade de regulamentar a
 segurança química no país, e a indústria brasileira do setor tem a
chance de conferir se a prometida adesão à química verde não é
 mesmo o negócio do futuro.

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